quinta-feira, agosto 02, 2012

Morte Súbita Abortada

Se puder, leia até o fim. Encerro hoje este blog por ter a certeza de que preciso diminuir o tempo que dedico ao labor para começar a ter tempo de viver a vida. Quatro de julho, 2012, oito e meia da manhã. Hoje tem decisão da Copa Libertadores da América entre Corinthians, do Brasil, e Boca Juniors, da Argentina. Chego a uma pequena sala, no quinto andar, onde duas atendentes, muito educadas, estão à espera. Entrego os documentos solicitados e faço uma brincadeira com um senhor, que sorriu como se agradecendo estivesse. Escuro... silêncio... escuro... Um clarão invade a sala. Sinto um calor enorme, muita dor, luto desesperadamente para ficar no chão onde estava. Alguém segura minha perna. Escuro... sem dor... muita paz. Ouço vozes. Alguém está com a respiração ofegante e muito forte. Penso: “Caramba... tem alguém passando mal”. Volto, me irrito, começo a vomitar. Estou em cima de alguma coisa em alta velocidade num corredor. Luzes passam rápidas, sem que eu compreenda de onde vieram. Meu braço esquerdo bate em uma quina de parede. Uma voz mais forte dá ordens. Continuo sentindo muita dor e agora vomito o leite de minha infância. Entro e saio de lugares que não consigo identificar. De repente, um beco, um lugarzinho apertado. Escuro... paz... muita paz... Ouço vozes. E mais uma vez, percebo que alguém sofre, pois a respiração continua forte e descompassada. Neste momento, me pergunto: “Meu Deus, será que ninguém vai ajudar?” Estou de volta. Continuo vomitando. Tem um lugar que me lembra um castelo com longos plásticos pendurados. A dor continua por todo o corpo. Percebo pessoas agitadas. Agora estou vomitando o leite materno, porque nada mais me resta. Alguém diz: “Olhe pra mim”. Escuro... paz... A respiração ofegante continua, só que agora com mais controle. Regresso de minha viagem e percebo que todo aquele calor tinha um motivo ruim. A ficha caiu: “Ih, deu merda... é comigo”. Sinto uma mão firme segurando a minha. Olho e só vejo um par de olhos de alguém usando uma máscara cirúrgica e repetindo o tempo todo: “Olhe pra mim, Luciano. Fique comigo, olhe aqui, óh!” Comecei a buscar a compreensão dos fatos. A voz forte era do Dr. Walter Emanoel, cardiologista. Ainda sobressaltado, pedi ao Dr. Walter que me dissesse o que houve, sem meias palavras. Ele me respondeu: “O senhor morreu por cinco minutos, foi ressuscitado e agora está na UTI do hospital”. Chorei, o medo tomou conta de todo o meu ser. A medicação, com certeza, fez efeito e eu adormeci. Creio que era final de tarde, quando uma senhorita se aproximou da cama e me disse: “Lembra-se de mim?” Meus olhos viram os olhos da esperança. Meu coração combalido gritou: ”Obrigado”. Nunca vou esquecer os olhos de Mariana, a enfermeira que me emprestou a luz da alma nos olhos de um anjo. Deixo esta mensagem para viver minha segunda vida, que seja longa, intensa e de muita alegria. Não vou deixar todos os meus afazeres, mas não me preocuparei mais, enquanto aqui estiver, com coisas miúdas. O Mestre me fez grande, para pensar grande, para amar intensamente, e viver. Agradecimentos: A todos do Hospital Santa Lúcia, em Brasília; A equipe do Dr. Ricardo Carranza, cardiologista, que implantou um CDI em meu peito; A direção do Plano de Saúde Unimed Seguros que, mesmo demorando em suas cotações, atendeu plenamente minhas expectativas; A todos os amigos e amigas, colegas de trabalho da EBC; A todos e todas que, por intermédio das redes sociais ou não, desejaram pronto restabelecimento e participaram de uma corrente positiva. Que Deus proteja a todos. PS1: Segundo o Dr. Eduardo, do Hospital Santa Lúcia, dever a vida ao Dr. Walter Emanoel é um sacrifício que ninguém merece! PS2: Eu pago o preço com prazer, pois estou vivo! Obrigado Emanoel, obrigado Dr. Walter!